
No entanto a Morte exigia uma compensação: ela pouparia Admeto se alguém se oferecesse para morrer no lugar dele. Como era um rei admirado, todos achavam que não haveria problema em satisfazer aquela condição. Mas Apolo enganou-se: ninguém quis assumir o lugar do jovem rei enfermo, nem mesmo seu pai e sua mãe, que já eram bem velhinhos. Ao saber disso, sua esposa, a doce e jovem Alceste, apresentou-se como voluntária alegando que não poderia continuar vivendo depois que o marido morresse.
Admeto chorou de gratidão e suas lágrimas se misturaram com as dela, numa tocante cerimônia de adeus que a Morte interrompeu para levar a rainha. Quando o pai veio lhe dar os pêsames Admeto inconsolável investiu contra ele acusando-o de egoísta e insensível. O velho retrucou dizendo que gostava muito da vida para desperdiçar o pouco que lhe restava e que ele fora egoísta e covarde ao permitir que sua mulher o substituísse.
O invencível Hércules ou Héracles, comovido com a trama que envolvia o casal, enfrentou corajosamente a Morte e conseguiu trazer a rainha de volta. Mas aquele desfecho surpreendente não teria um final feliz. Admeto ficou radiante, mas Alceste não emitiu uma só palavra ao se reencontrar com o marido. Uns dizem que ela estava muda de espanto com o que tinha visto no outro mundo.
Sem dúvida podia ser espanto, mas o motivo era bem outro: ao passar para o outro mundo, pode ver, pela vez primeira, o avesso de nossas vidas e tinha compreendido que o amor e a morte, a generosidade e o egoismo, a coragem e a covardia se entrelaçam, são inseparáveis, para formarem essa figura complexa, rica e imperfeita que é todo e qualquer ser humano.
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